as bolhas
por Caroline Stampone |
naquele segundo
ele sorriu
ele sonhou com um fumador de tristezas
ela lembrou que não tinha jantado ainda, apesar de já passarem das 19.00
ela era duma terra onde o jantar era suposto ser entre 17.00 e 18.00 da tarde
ela estava cansada de fazer tudo como era suposto ser
naquele segundo
ele pensou que bem podia passar o resto da noite com aquele desconhecido
ela achou que já estava velha demais para uma festa daquela, pensou em ir embora, mas recebeu o convite de um desconhecido
dançou e esqueceu essa história de ser velho demais para isso ou para aquilo
naquele segundo
ele caiu e mais do que depressa mãos sorridentes ofereceram-se
em mãos alheias ele achou um pedaço de si mesmo que tinha começado a desbotar
ela pensou em encontrar um lugar bem alto de onde pudesse se jogar e acabar de vez
daí, um outro cuspiu no chão
ela olhou para aquela gosma amarela e viu a própria vida
um amontoado de desistências e medos e merdinhas
ela olhou para o alto e viu quando duas bolhas se encontraram
se viram
se carregaram por um tiquinho de vida _mais alto, mais intenso, mais próximo do sol
por fim, elas desfizeram-se, deixaram de existir, viajaram para o mundo invisível e viraram apenas milímetros de memórias que nem o álcool e nem o tempo quiseram ou souberam apagar.
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